O presidente do Sindicato dos Vigilantes de Minas Gerais, Edilson Silva (foto), vê com preocupação as dificuldades e desafios enfrentados pelos trabalhadores e trabalhadoras nesses tempos de pandemia do novo coronavírus (Covid 19). Em anos de profissão como vigilante e tantas lutas, ele revela que nunca imaginou passar por um momento como esse.
Em entrevista concedida especialmente aos profissionais de segurança privada, os quais considera verdadeiros anjos da guarda, principalmente nesse momento em que precisam ir à luta, mesmo correndo todos os riscos de contágio pelo vírus, ele alerta aos trabalhadores para que não caiam em armadilhas que possam precarizar ainda mais seus direitos. Confira:
COMO VOCÊ VÊ A ATUAL CONJUNTURA, EM MEIO À PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS?
"Vejo com muita preocupação, pois estamos diante de uma crise sanitária mundial, à qual nossa geração nunca teve contato. Para nós, brasileiros, trabalhadores, a situação ganha contornos ainda mais graves, pois as autoridades, que deveriam zelar pela saúde pública, estão batendo cabeça, voltadas muito mais para seus próprios interesses do que preocupadas com a saúde da população. Espero que reflitam sobre a gravidade do erro que estão cometendo e tomem providências urgentes para evitar que mais pessoas contraiam o vírus, adoeçam e até mesmo percam suas vidas por tamanha irresponsabilidade. Por outro lado, torço para que vacinas que possam prevenir o contágio e medicamentos eficazes na cura da doença sejam descobertos e cheguem à população o mais breve possível".
HÁ CASOS DE CONTÁGIO DE PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PRIVADA EM MINAS POR CONTA DO NOVO CORONAVÍRUS?
"Muito se tem dito nas redes sociais sobre o adoecimento e até mesmo perdas de companheiros vigilantes vítimas da Covid 19. Mas, o Sindicato não foi comunicado oficialmente sobre nenhum caso, seja pelas autoridades ou por colegas, mesmo estando em contato permanente com as autoridades, entidades representativas dos vigilantes e a categoria. No entanto, lamentamos as milhares de mortes e de adoecimentos registrados em todo o mundo e no noss país. Caso alguém tenha informações de casos envolvendo vigilantes, pedimos que nos informe para que possamos acompanhar e ajudar no que for possível".
QUE MEDIDAS O SINDICATO TEVE QUE ADOTAR POR CAUSA DA PANDEMIA?
"Além de suspender o atendimento público na sede da entidade, em Belo Horizonte, e de fechar o Clube dos Vigilantes, em Contagem, em atendimento às normas de isolamento social preconizadas pelas autoridades municipais, estadual e Organização Mundial da Saúde (OMS), para evitar que trabalhadores e funcionários da sede e do Clube corressem riscos de contágio, abrimos mão, temporariamente, de exigir que as homologações das rescisões de contrato de trabalho fossem feitas na entidade.
Essa medida, também foi tomada para não atrasar os acertos, uma vez que estamos impedidos de prestar atendimento público presencial, para não expor ninguém a riscos desnecessários ao circular pela cidade. Mas é importante ressaltar, que as empresas devem enviar cópias dos acertos ao Sindicato posteriormente, para que possamos conferi-los e evitar quaisquer prejuízos aos trabalhadores.
Também oficializamos um pedido junto à Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais para que inclua os profissionais de segurança privada no rol do público-alvo da Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe; elaboramos, conjuntamente com outras entidades representativas dos vigilantes no estado e a representação patronal, um documento com orientações a serem tomadas pelas empresas do setor e tomadores de serviços a fim de proteger e evitar que os empregados se contagiem no ambiente de trabalho, como o fornecimento de máscaras de proteção, luvas, álcool em gel e demais Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), dentre outras medidas.
Além disso, mantivemos o atendimento à categoria por meio do telefone 31-3270-1300; e estamos mantendo nosso site e redes sociais sempre atualizados, com informações sobre a pandemia e assuntos que interessam aos trabalhadores".
A PANDEMIA AUMENTOU O DESEMPREGO NA CATEGORIA EM MINAS?
"Nesses primeiros dois meses, não registramos um número de dispensas acima da média, até mesmo porque algumas empresas optaram por conceder férias a seus empregados. Mas, daqui pra frente, não dá para prever o que acontecerá, pois vai depender do tempo em que o isolamento social ainda será mantido e de quando o comércio de rua, os shoppings e a indústria voltarão a funcionar normalmente".
O SINDICATO TEM SIDO PROCURADO POR EMPRESAS DO SETOR PARA FLEXIBILIZAR DIREITOS, DIMINUIR A JORNADA DE TRABALHO E SALÁRIO?
"No início da pandemia, fomos procurados por cerca de 15 empresas com propostas de acordos. Mas, com a edição da Medida Provisória 936, as empresas passaram a negociar diretamente com seus funcionários, o que nos preocupa muito, pois, sem a participação do Sindicato enquanto representante dos trabalhadores, dificilmente os empregados terão algum poder de negociação, principalmente em um momento de dificuldades como esse, em que até mesmo a Justiça do Trabalho encontra-se com suas atividades suspensas".
ENTÃO, O QUE FAZER DIANTE DE UMA SITUAÇÃO COMO ESSA?
"É lamentável que, num momento tão difícil para todos, alguns patrões, inescrupulosos, aproveitem para prejudicar seus empregados. A orientação é para que os trabalhadores fiquem atentos às propostas feitas pelos patrões e, ao menor sinal de que algo esteja errado ou fira seus direitos trabalhistas, não assine nada e denuncie imediatamente o fato ao Sindicato para que possamos tomar as providências, até mesmo judiciais, e impedir possíveis abusos e prejuízos. Como disse, a diretoria do Sindicato continua trabalhando e mantendo o atendimento à categoria por meio do telefone fixo da sede e de seus celulares".
COMO VOCÊ VÊ AS MEDIDAS TOMADAS PELO GOVERNO FEDERAL DURANTE A PANDEMIA, COM A DESCULPA DE PRESERVAR EMPREGOS?
"Essas medidas do governo colocam o trabalhador para discutir seus direitos diretamente com o patrão. Isso é complicado, porque o poder econômico fala mais alto e força-o a aceitar propostas que podem prejudicá-lo, como a Medida Provisória 936, que permite às empresas pagar apenas 30% do salário, deixando o restante do pagamento para o governo, que completaria o valor até o teto máximo correspondente ao que o trabalhador teria direito em caso de recebimento do seguro-desemprego. Para os vigilantes, isso é prejudicial, pois esse valor é menor do que recebem normalmente. Não bastasse, a MP também prorroga o pagamento de outros direitos, como férias e 13º salário, em caso de concessão de férias. Como sair de férias em plena pandemia, sem dinheiro, sem poder viajar ou passear?".
QUE MENSAGEM VOCÊ DEIXARIA PARA OS VIGILANTES NESSE MOMENTO QUE ESTAMOS PASSANDO?
"Primeiramente, parabenizo a todos os vigilantes, que mesmo com todos os riscos de contágio pelo novo coronavírus, continuam trabalhando, na linha de frente, prestando esse serviço essencial, em defesa da vida, que é proteger pessoas e patrimônios, seja em hospitais, supermercados, bancos, residências... Não é fácil deixar a família em casa para garantir o pão de cada dia, mas o momento exige de cada um de nós ainda mais força e coragem. Quem puder manter o isolamento social, fique em casa. Quem precisar trabalhar, se cuide, não deixe de lavar as mãos com água e sabão sempre que possível, usar álcool em gel, luvas, máscara de proteção e demais EPIs. Isso ajuda a protegê-lo, à sua família e aos outros também. Com cada um fazendo sua parte, com esperança e fé vamos superar juntos esse momento. Lembre-se: o trabalho é importante, mas a saúde e a vida vêm sempre em primeiro lugar".
Fonte: Imprensa do Sindicato.