História de cada um: Trajetória de lutas de aposentado de Contagem é inspiração para vigilantes

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A série de reportagens "História de cada um" chega à quarta edição. Desta vez, contamos a trajetória do vigilante aposentado Paulo Ribeiro da Silva, o "Ribeiro", 67 anos, casado, pai de dois filhos e avô de dois netos, morador de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Foram quatro horas de conversa com a Imprensa do Sindicato, que poderia durar dias e, certamente, render um bom livro ou roteiro de cinema. Com esse relato inspirador, o Sindicato dos Vigilantes de Minas Gerais homenageia "Ribeiro" e a todos os profissionais de segurança privada.

Confira essa incrível história real, dura, mas feliz e vitoriosa, digna dos grandes guerreiros, contada pelo próprio "Ribeiro":

"Nasci em 1953. Aos seis anos de idade, perdi minha mãe e, dois anos depois, meu pai. Éramos 13 irmãos, e fui criado pelos mais velhos. Em Goiás, morei em Quirinópolis e Rio Verde.

Na juventude, entre anos de 1973 e 1977, fiz parte da dupla sertaneja 'Odelsilva e Silvani', os mensageiros do amor. Chegamos a gravar uma fita com 13 músicas e a fazer shows no Pará.

Nos apresentamos nas rádios Difusora e Brasil Central, em Rio Verde, e na Anhanguera, em Goiânia. Na Brasil Central, participamos de programas de auditório e mantivemos contato com vários artistas. Em agosto de 1976, fomos a São Paulo, onde apresentamos a fita a várias  gravadoras importantes, como Chantecler, Califórnia e Xororó.

A dupla chegou ao fim quando o parceiro resolveu voltar para a roça, para ficar com a família, que tinha uma fazenda. Ele também se apaixonou por uma moça e quebrou o combinado, de que não deveríamos namorar sério, pois se alguém arranjasse casamento poderia atrapalhar a carreira.

Com o fim da dupla e uma grande vontade de vencer na vida, aceitei o convite de um irmão que residia em Santa Luzia e vim morar em Minas. Em 1977, consegui um emprego em Belo Horizonte, na construção civil, mas tive que voltar a Goiás para resolver minha situação no Exército - aos 18 anos, eu havia me alistado em Rio Verde, mas, como morava na roça, não me apresentei na época certa. Então, tive que pagar uma multa pesada e pediram para me reapresentar posteriormente.

Naquele ano, mesmo com 22 anos, tive que servir ao Exército. Permaneci um ano no 41º Batalhão de Infantaria Motorizada, em Jatai (GO), como atirador de metralhadora. Fiz muitos amigos lá, insistiram para que eu engajasse, mas quando chegou a época de sair, a vontade de vir embora foi maior.

Como o dinheiro do soldo que consegui guardar não era suficiente para voltar a Minas, tive que vender o violão de estimação que tinha desde a época da dupla. Era um Turuna, muito bom.

De volta a BH, fui trabalhar na Vise Vigilância, através da qual tive a oportunidade de fazer o curso de vigilante, que naquela época era ministrado na Academia de Polícia Civil (Acadepol).

Depois, fui contratado pela Sbil Segurança para prestar serviços na Aço Minas, em Ouro Branco. Após 45 dias de trabalho, tive um problema na garganta e, por recomendação médica, fui afastado do trabalho. Após nove dias de afastamento, me dispensaram.

Associação

Em junho de 1979, uma grande greve dos vigilantes estourou na capital. Como ainda não existia sindicato da categoria, ganhávamos uma mixaria e a insatisfação era geral.

A greve, que durou uns 10 dias, chegou a parar Belo Horizonte. Fizemos passeatas pelas ruas do centro da cidade, como na Avenida Afonso Pena, que mobilizaram mais de 2 mil vigilantes. Até mesmo os pelegos que trabalhavam nos bancos e empresas de construção, e se escondiam da greve, tiveram que sair para as ruas.

Numa grande assembleia no centro, na esquina da Avenida Paraná com a Rua dos Tamoios, discutimos o que fazer para conquistarmos alguma coisa para a categoria, que garantisse a continuidade da luta e fizesse barulho para chamar a atenção dos patrões. Foi quando surgiu a ideia de criarmos uma associação para organizar a luta.

Era preciso alugar uma sala, pagar o aluguel, telefone, fazer um jornalzinho para comunicar com todo mundo. Colocada em votação, a proposta foi aprovada por unanimidade por mais de mil trabalhadores, que se propuseram a descontar do próprio salário uma quantia e contribuir para manter a associação.

Uma comissão então foi constituída para administrar a entidade, que passou a funcionar na Rua Curitiba. Com a criação da associação, já pensávamos em fundar um sindicato.

Mesmo trabalhando em Ouro Branco, onde permaneci de 1979 a 1992, continuei contribuindo mensalmente com a associação e sempre que vinha a BH visitava a entidade e acompanhei o surgimento do Sindicato dos Vigilantes de Minas Gerais, em 1987.

Também trabalhei na Mendes Junior, Banco Mercantil do Brasil,  Hotel Wimbledon e na Transeguro-BH, prestando serviços no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) de 2001 a 2004.

Com a perda de contrato, fui transferido para a base da Transeguro. Como era cipista e tinha estabilidade no emprego, não puderam me mandar embora. Queriam que eu pedisse as contas, mas não aceitei e comecei a sofrer perseguição.

Sequestro

Na época, a empresa fazia a vigilância de antenas de uma operadora de telefonia celular. Certa vez, houve um comunicado de que uma das antenas, em Brumadinho, estaria sendo invadida por bandidos, que furtavam fios de cobre.

Com a suposta invasão, eu e um colega de trabalho fomos enviados ao local. Fui deixado lá sozinho, por volta das 16h30, sem arma, sem cassetete, sem água para beber. Por ser fiscal de setor, eu não era obrigado a ficar lá. Mas também não podia me recusar.

Era uma pegadinha. Me deixaram dentro de uma área descoberta, cercada por um muro, e trancaram o portão com corrente e cadeado. Escureceu, começou a chover. Com a água da chuva, molhava os lábios para não ressecar a boca.

Os supostos bandidos voltaram. Eu só tinha uma pedra para me defender, mas Deus me deu sabedoria para agir. Para passar a ideia de que não estava sozinho, comecei a conversar comigo mesmo, para que os ladrões pudessem ouvir.

Quando tentaram invadir o local, joguei a pedra com força no portão e eles desistiram. Na madrugada, por volta da 1h da manhã, dois vigilantes armados apareceram e pude sair do local.

Fiquei traumatizado e procurei ajuda médica. Passei a fazer tratamento psicológico e permaneci afastado do trabalho pelo INSS de 2005 a 2017, quando completei 65 anos e obtive a aposentadoria.

O que aconteceu comigo foi um sequestro, constatado pela perícia psiquiátrica do Fórum Lafayete. Também foi um acidente de trabalho, pois fiquei sem água,  arma, trancado, proibido de sair, ir e vir, sem ter para onde correr e apenas com uma pedra. Ou enfrentava a situação ou me matavam lá dentro. Foi uma crueldade o que fizeram comigo, para ver se eu pedia as contas.

Quinze cirurgias

Com todo esse transtorno psicológico, não dormia mais, tinha medo de tudo. Minha imunidade ficou muito baixa e foram surgindo várias doenças. Operei de aneurisma e,, por conta de uma hérnia umbilical e um erro médico, fui submetido a 15 cirurgias, chegando a ser desenganado pelos médicos.

Mesmo assim, tomei muito pau nas perícias médicas e tive que recorrer à Justiça. Foi muito difícil, não desejo isso a ninguém.

Durante todo esse tempo, contei com o apoio do Sindicato, desde o preenchimento da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), para levar ao psiquiatra, até com advogados, nas perícias e causas. O Sindicato nunca me negou ajuda.

Por isso, mesmo aposentado, continuo sócio do Sindicato. Além de apoio, com o Sindicato tenho planos de saúde e odontológico, posso frequentar o Clube dos Vigilantes com minha família e fiz muitas amizades. Vale demais a pena.

Agora, como cantor gospel, compositor e instrumentista - toco viola, violão, guitarra e cavaquinho, estou esperando passar a pandemia do novo coronavírus para gravar um CD. Já tenho muitos hinos na lista.

Esperança e fé

A quarentena deixa a gente pra baixo, mas não podemos nos abater. Essa pandemia, assim como as fortes chuvas que caíram no início do ano e a dengue, são pestes relatadas no Velho Testamento.

O Brasil está muito egoísta. Ninguém abraçava ninguém, apertava a mão ou queria ajudar ninguém. As pessoas só pensavam em futebol, Carnaval, haviam virado as costas para Deus.

Mas o coronavírus nos obrigou a ficarmos distantes, e hoje todo mundo está doido para se abraçar.

É muita ganância, roubalheira. O povo não quer nada com Deus, não quer orar, buscar. Falta Deus no coração das pessoas.

Deus fez a terra, a natureza viva, mas estamos destruindo tudo. É desmatamento, poluição, mar invadindo. Agora, chegou a conta. A natureza cobra. São advertências para acordarmos, endireitarmos e preservarmos a natureza. Um alô para a humanidade.

Por isso, Deus permite que venham essas coisas e os inocentes pagam pelos pecadores. Mas Ele não quer mal a ninguém, por isso enviou seu Filho para nos ajudar. Deus é fiel e tenho fé que tudo isso vai passar, estou orando para esse vírus sair.

Vire-se para Deus, clama a Deus, volte a conhecer as igrejas de coração e alma. Você verá que a vida vai melhorar. Se eu morrer hoje, me considero um vencedor na vida".

Os demais textos da série podem ser lidos no Facebook e no site do Sindicato (www.ovigilante.org.br).

Fonte: Imprensa do Sindicato.

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